quarta-feira, 22 de julho de 2009

CAPÍTULO II

A princípio a conversa não fluiu muito, ela um pouco envergonhada, sempre olhando para o chão. Hércules ficou olhando para mim e sua mãe enquanto conversavamos, com um misto de curiosidade mal disfarçada, sempre escorado a cadeira de sua mãe, o pézinho sujo vez ou outra era esfregado um no outro. Os minutos foram passando e a conversa foi fluindo, informei que era a nova professora, estava visitando algumas famílias, conhecendo os pais e os meus futuros alunos, e o seu menino o Hércules? Gostava de estudar?Um pouco? AAAhh!!Tinha dificuldade para escrever... HUmmm, mas muito bom em matemática. A mãe sorria e ía respondendo a tudo...disse um pouco mais, que ele era muito estudioso, bom filho, trabalhador, porém tinha um defeito, isso para ela, ele era muito dado a ficar horas e horas subido em cima de uma árvore olhando para o vazio e ninguém conseguia entender o que ele tanto via de lá de cima.
Achei interessante ao saber aquilo, mas fiquei quieta. Para encerrar a conversa perguntei por que ele havia parado de ir a escola, onde obtive a pronta resposta que ele já sabia escrever e ler um pouco, mais do que ela própria ou mesmo o pai dele sabiam, o que já era suficiente, depois o pai dele precisava de ajuda para cuidar dos bichos, e ele er o único mais velho que poderia ajudar. Notem... ele tinha mais 03 irmãozinhos.
Diante da recusa da mãe fiquei um pouco sem argumentos, mas talvés encorajada pelo olhar suplicante de Hércules, encontrei palavras para angariar sua volta à escola. De início foi difícil, mas graças ao bom Deus, consegui e vi a felicidade borbulhar naqueles olhinhos amendoados que agora pareciam me venerar.
Feliz com o que havia conseguido, me despedi e fui saindo... Hércules me acompanhou até a porteira com pretexto de impedir que eu fôsse mordida pelo cão brazino que de fato me olhava com um ar feroz. Na realidade ele queria era me perguntar certas coisas que a presença de sua mãe o impedia de perguntar.

H É R C U L E S by Juciane Vareiro Ales

CAPÍTULO I

Quando conheci aquele garotinho do agreste sertão, pensei nas ironias que a vida nos apresenta.
Hércules... nome de um ser mitológico, forte, imponente... dado a um garotinho tão franzino...Magrinho, quase esquálido, com seu cabelo negro, liso, escorrido por sobre a testa;os olhos amendoados, infantis e de uma grande profundidade; pernas finas, mas graças a Deus, resistentes o suficiente para conseguir correr atrás das vacas pela caatinga. Não sei ao certo sua idade, creio que por volta de uns quatorze anos, creio que ele próprio não saiba exatamente. Poderia arriscar um palpite quanto ao seu peso, mas de tão magro, não gostaria de parecer ridícula. Sua altura, com certeza inferior a média da crianças de sua idade e isso era prova das condições precárias em que vivia.
Ao abrir a porteira da pequena chácara, em um segundo apenas, percebi uma criança adorável, uma índole dócil naquele menino que me cativara profundamente... Ao me receber om seu sorriso criança notei que seríamos grandes amigos... Ele convidou-me para chegar, curioso também por me conhecer. Ao saber que eu era a nova professora do vilarejo foi com uma vóz algre que gritou "maiiiinha", ao entrar correndo em casa.
Dona Maria do Perpétuo Socorro trazia em seus traços fisionômicos, o ar calmo do sertanejo já acostumado com as agruras da vida e uma cordialidade timída, característica dessa gente. Convidou-me para entrar no humilde casebre de taipa, onde quase ou nenhum móvel havia. Havia um quadro na parede mostrando um casal muito sério em trajes de casamento, mais adiante na outra parede, encostada estava uma prateleira muito alquebrada onde se viam alumínios reluzentes, acho que conseguiria retocar meu batom se insistisse em olhar no fundo de alguma panela. Do lado da prateleira havia um ponte grande de barro com um caneco, também reluzente, virado de boca para baixo. Ofereceu-me um pouco d'água, aceitei. Estava fresca a água e pude sentir o gosto do barro naquela água tão limpa. Puxou muito rápida um banquinho de madeira, polido pelo tempo e pelo uso. Sentei e só então começamos a conversar.

Minha filha na formatura da vovó... Inteligente essa menina.