quarta-feira, 22 de julho de 2009

H É R C U L E S by Juciane Vareiro Ales

CAPÍTULO I

Quando conheci aquele garotinho do agreste sertão, pensei nas ironias que a vida nos apresenta.
Hércules... nome de um ser mitológico, forte, imponente... dado a um garotinho tão franzino...Magrinho, quase esquálido, com seu cabelo negro, liso, escorrido por sobre a testa;os olhos amendoados, infantis e de uma grande profundidade; pernas finas, mas graças a Deus, resistentes o suficiente para conseguir correr atrás das vacas pela caatinga. Não sei ao certo sua idade, creio que por volta de uns quatorze anos, creio que ele próprio não saiba exatamente. Poderia arriscar um palpite quanto ao seu peso, mas de tão magro, não gostaria de parecer ridícula. Sua altura, com certeza inferior a média da crianças de sua idade e isso era prova das condições precárias em que vivia.
Ao abrir a porteira da pequena chácara, em um segundo apenas, percebi uma criança adorável, uma índole dócil naquele menino que me cativara profundamente... Ao me receber om seu sorriso criança notei que seríamos grandes amigos... Ele convidou-me para chegar, curioso também por me conhecer. Ao saber que eu era a nova professora do vilarejo foi com uma vóz algre que gritou "maiiiinha", ao entrar correndo em casa.
Dona Maria do Perpétuo Socorro trazia em seus traços fisionômicos, o ar calmo do sertanejo já acostumado com as agruras da vida e uma cordialidade timída, característica dessa gente. Convidou-me para entrar no humilde casebre de taipa, onde quase ou nenhum móvel havia. Havia um quadro na parede mostrando um casal muito sério em trajes de casamento, mais adiante na outra parede, encostada estava uma prateleira muito alquebrada onde se viam alumínios reluzentes, acho que conseguiria retocar meu batom se insistisse em olhar no fundo de alguma panela. Do lado da prateleira havia um ponte grande de barro com um caneco, também reluzente, virado de boca para baixo. Ofereceu-me um pouco d'água, aceitei. Estava fresca a água e pude sentir o gosto do barro naquela água tão limpa. Puxou muito rápida um banquinho de madeira, polido pelo tempo e pelo uso. Sentei e só então começamos a conversar.

Nenhum comentário: